Mensagens

A mostrar mensagens de 2016

Já mataste alguém?

Imagem
A questão era retórica e a resposta evidente: claro que não! Mas... Hoje, por acaso, estive em Lisboa a tratar de uns assuntos. Precisei de almoçar e entrei num snack-bar . Fui lavar as mãos. Quando abri a torneira, fiz com que lá longe, nem sei bem onde, uma estação de captação de água da rede de Lisboa sorvesse a pouca água que usei. Sentei-me e pedi um bitoque de porco. Eu não matei aquele porco. Já estava morto muito antes de eu decidir que ia almoçar ali. Mas matei o seguinte. A febra que comi ficou a faltar no frigorífico e não tarda nada telefonam para o talho a pedir mais. Esses telefonam para o matadouro e ditam a sentença de morte dos bichos seguintes. Essa foi a consequência da minha decisão económica. Do mesmo modo, evidentemente, se passou com as batatas, o arroz, as alfaces, o pão e o vinho, até com o guardanapo. A minha ação influenciou os seus circuitos de distribuição e produção.

Jésus, le dieu fait homme, de Pierre-Louis Couchoud

Imagem
A criação do Cristo – Um esboço dos começos do Cristianismo , de Pierre-Louis Couchoud, de 1937, é um clássico entre os miticistas, ou seja os que defendem que Jesus não foi um personagem histórico, mas uma divindade para a qual foi criada uma história entre os homens. A sua tradução inglesa foi finalmente disponibilizada por Frank Zindler, diretor do American Atheist Magazine e posta online, Volume 1 (PDF, 1,2 Mb, 229 págs.) e Volume 2 (PDF, 1,7  Mb, 241 págs., por René Salm, no seu blogue Mythicist Papers , e também em versão comentada por por Neil Goffrey, no blogue Vridar . Eu preferia ler a edição original francesa, mas já estou muito contente por poder ler este livro. Dado tratar-se de uma obra de 1937, é possível que alguns aspetos estejam desatualizados face à pesquisa contemporânea. Depois de ler o livro, vou sem dúvida consultar os comentários de Neil Geoffrey, pois este blogger australiano é uma das melhores fontes eruditas e cientificamente honestas neste campo, e ao me

10 segredos sobre a pesca ao clique (click-bait) - o terceiro vai deixar-te espantado!

Imagem
A pesca ao clique ou iscar ao clique ( click-baiting ) é uma atividade muito vulgar na Net, mas poucos sabem do que se trata. Dito de outro modo, poucos são os pescadores, mas quase todos já viemos à rede, conscientemente ou não. Sendo assim, resolvi escrever este texto com a estrutura e a linguagem típicas de um artigo de click-baiting . A estrutura em pontos é típica, bem como o exagero dos títulos. É dessa forma que vou escrever.

O verdadeiro Jesus que se levante, por favor...

Imagem
Não tenho quaisquer problemas com o facto de Jesus ter tido existência histórica ou não. Os meus problemas com Jesus foram resolvidos aos 15-16 anos, quando me tornei ateu. O chamado Jesus da fé, o filho de uma virgem e de Deus que fez milagres, foi crucificado e ressuscitou – não é de todo real. É uma fantasia religiosa. As únicas hipóteses viáveis, face à inexistência de vestígios históricos, são 1) Jesus ter sido um curandeiro ou profeta quase completamente desconhecido sobre o qual se construiu todo este fantástico edifício mítico que é o cristianismo; ou então 2) trata-se de um personagem divino tão imaginário como outro deus qualquer, ao qual se inventou, a dado momento, uma vinda à terra salvadora. Mas o puzzle de investigação histórica sobre Jesus é um caso que há anos me interessa muito. Investigadores históricos têm vindo a morder nas sacrossantas escrituras (não confundir com os adeptos de teorias loucas, que também os há), uma dentadinha de cada vez, desde há séculos. Iss

Mentirias aos teus filhos?

Imagem
Marten Pepijn – Travessia do Mar Vermelho – Wikipedia "Mentirias deliberadamente aos teus filhos?" – pergunta o rabi Adam Chalom , doutorado em Humanismo Hebraico pela Universidade de Yale, EUA. – "Dirias que foi isto que aconteceu quando sabes que não foi isto o que aconteceu? Há uma questão ética aqui". O rabi Chalom refere-se à crença popular de que a a narrativa da Bíblia judaica corresponde a eventos históricos. De facto, é sabido entre os arqueólogos bíblicos há quase três gerações que os Cinco Livros de Moisés (a Torah ) e a História Deuteronomística dos Nevi'im (incluindo os livros de Josué , Juízes e Samuel ) correspondem tanto a uma descrição da história antiga do povo judeu como como O Senhor dos Anéis , de J.R.R. Tolkien, é uma descrição literal da Primeira Guerra Mundial.

Politicamente correto

Imagem
O Bloco de Esquerda parece tar dado um faux pas ao propor um nome sem indicação de género para o Cartão de Cidadão. Não porque a proposta seja incorreta, na minha opinião, mas porque é muito à frente para a maioria. As lutas políticas à volta da gramática tiveram um curso muito limitado ainda no nosso país, mas é inevitável que cá cheguem. Entre os falantes de inglês já duram há muitos anos e não mostram sinais de abrandar. A língua que falamos exprime naturalmente as relações de poder das sociedades que a criaram. O facto do masculino ser o género padrão, usado por defeito, exprime o passado e o presente patriarcal das nossas sociedades. Não é uma caraterística só da língua portuguesa, mas foi herdada há muitos séculos das línguas suas antecessoras. Abundam nas redes as demonstrações de indignação contra o politicamente correto . Muitos sentem-se ameaçados no conforto dos seus hábitos mentais, até quiçá das suas identidades, pelas propostas de inovação linguística, irritantes e estu

But for the oppressed people of the rest of the world they show the middle finger

I made a rather long comment on a guest post in Ophelia Benson's site Butterflies & Wheels , titled "If you say 'I am not Charlie', you are not a liberal" . Then, Ophelia published my comment as a guest post of it's own. I'm sharing it with you.

Debate

Imagem
Um amigo do Facebook , Jorge Silva Paulo , cujas simpatias pendem para o lado das políticas do governo anterior, convidou-me, entre outros, a comentar um poste em que zurzia no governo de António Costa. Na minha resposta entusiasmei-me e escrevi um texto bastante longo. Publico aqui a intervenção inicial desse amigo, com a devida autorização da sua parte, bem como uma resposta sua e uma tresposta minha. Omiti, naturalmente, as intervenções de terceiros que não são meus amigos no Facebook.