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A mostrar mensagens de setembro, 2009

As administradoras da vida

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Estava eu a dormir no quarto de hóspedes duns amigos meus quando fui despertado pela rotina matinal de uma mãe a despachar as suas duas filhas para a escola. Lavar, vestir, tomar o pequeno-almoço, lavar os dentinhos, as mochilas, o carro, as horas. Suplicava, ameaçava, tentava vários tons de voz, repetia-se constantemente. As crianças, aparentemente, estavam noutra. Pareciam apostadas em torpedear, através da resistência passiva, o horário apertado da mãe. A voz dela denunciava um stress crescente.

Ruínas da memória

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Fui ver ruínas históricas e ruínas pessoais. Quanto às históricas, visitei o castelo de Paderne. Como o dinheiro e a pedra não abundavam, os Mouros construíram o castelo em taipa 1 , pintando nas paredes uma alvenaria fingida para enganar os inimigos cristãos. Oito séculos mais tarde, se calhar pelas mesmas razões, falta de fundos e pedra, o meu avô materno, no início do século vinte, usou a mesma técnica construtiva para erguer um casebre para a sua numerosa família, antes de se finar de forma muito temporã. Não fingiu alvenaria, antes pintou tudo com singela cal.

Globalização no Portugal profundo

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Praia do Alfamar, 18/09/09 Finalmente estou a trabalhar para o bronze. Já tenho até umas queimaduras, sem as quais não me atreveria a voltar à Grande Lisboa. Já não tenho família em Portimão, onde cresci, pelo que desta vez vim parar a Boliqueime, terra dos meus pais. O Algarve que eu conheci em garoto já não existe (felizmente!). Saí de cá cedo, sem ter acompanhado as grandes mudanças que o tempo e o turismo operaram. As pessoas falam-me de  uma nova toponímia com nomes de empreendimentos turísticos (Quinta do Lago) ou praias outrora ignoradas que se tornaram famosas por causa de gente famosa (do Alemão, dos Tomates, do Ancão). Não conheço nada disso. Boliqueime, pelo contrário, está cheia de imagens da minha infância. Houve muita construção, é claro, mas nada da avalanche de betão que soterrou os Olhos de Água, por exemplo. Apesar do mar se ver no horizonte, a distância da costa salvou o sítio. Ando pelas ruas sonolentas esmagadas pelo sol, vejo casas que reconheço, os

Biostase

Vamos imaginar que é necessário salvar o mundo. Mesmo a sério? Que ferramentas são necessárias? Tenho uma cabeça de designer e, uma vez posto o problema, não pude largá-lo. Levei umas boas seis semanas a escrever este artigo, o que não é muito, se considerarmos a importância do assunto. O resultado pode levar-me a ser apedrejado de vários quadrantes, o que também é normal para quem tente salvar o mundo. Leiam e critiquem, por favor. O artigo é um pouco grande para o blog, portanto foi para o meu site:   Biostase — artigo em www.carloscabanita.eu

Sushi

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Consegui viver 57 anos sem ter provado sushi. Essa privação finalmente acabou. Foi uma revelação. Sabores suaves e ricos, em especial os peixes. O estranho arroz japonês. As algas. Uma massa picante estranhamente suave mas poderosa. Os pratos também são uma festa para os olhos. Não vejo a hora de voltar a experimentar.

Acabou a festa (comentário)

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O post  anterior, Acabou a festa! , incomodou os meus amigos comunistas, como era de esperar. Houve quem me chamasse anticomunista primário (nunca vi ninguém ser chamado anticomunista secundário, é um daqueles chavões), mas a maioria escolheu pegar na descrição que fiz do meu stress psicológico na festa e dos incidentes de distracção e ignorar os considerandos políticos iniciais. “Esqueceste-te da EP e tiveste problemas com o telemóvel, e que culpa têm os comunistas disso?” Nenhuma, claro. Eu tenho as minhas maluquices, mas não sou doido varrido. Mas o stress precipitou a conclusão de uma reflexão de há anos, a de que, pessoalmente eu, Carlos Cabanita, não tenho nada a fazer lá. Foi o que eu disse: “Os contratempos e o desconforto são apenas indicadores de uma decisão política, estética e ética que tem de ser tomada. Conheço os sinais. Um tera ou dois de informação mudam de sítio na minha cabeça. Pro nto, já está. Não volto cá mais.” Falo português, ou quê?

Acabou a festa!

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Há muitos anos que frequento a Festa do Avante!, ano sim, ano não, nunca mais que um dia por sessão. Não concordo com praticamente nada do que lá se diz e aquelas imagens de mobilização de amplas massas comunistas, tudo cheio de foices e martelos e bandeiras vermelhas, trabalhadores de 50 anos de punho no ar e jovens a dançar a Carvalhesa, têm o seu quê de inquietante. Encarei aquilo como uma espécie de universo paralelo. Um faz-de-conta gigante. 1989 não aconteceu. A União Soviética ainda existe e Brejnev ainda manda nela. O “socialismo” ainda é “real”. Os gulags são ainda negáveis. A maioria dos intelectuais ainda acredita no marxismo. A queda do último dos manos Castro em Cuba não é questão de meses. O marxismo não faliu. O PCP não está isolado no mundo. Ainda é um grande partido de massas e não foi ultrapassado pelo Bloco de Esquerda. Ano após ano a ilusão vai-se desvanecendo. A Cidade Internacional, outrora povoada de poderosos “partidos irmãos” da Europa de Leste, cheios de

Terroristas

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Não gosto de terroristas, e não é de agora. Mesmo quando eu era um marxista radical, nos anos setenta e oitenta do século vinte, nunca aceitei o terrorismo como via política fosse para onde fosse, ao contrário de muitos que tendiam a vê-lo com romantismo. Que desprezo supremo pelo povo é preciso para contemplar a possibilidade de assustá-lo como gado, com actos sortidos de violência, para levá-lo a aceitar os objectivos de uma minoria! O povo não gosta disso. Sempre que pode reage de forma brutal, ou apoiando medidas brutais, contra os terroristas. Não se confunda com luta armada contra regimes opressivos, que pode tomar aspectos de guerrilha ou incluir atentados contra alvos militares ou policiais. Pode-se discutir se a luta armada é ou não uma via política eficiente (eu penso que geralmente não é, mas depende das circunstâncias). Os regimes opressores têm vantagem em acusar os seus opositores mais violentos de terrorismo. Mas o terrorismo que me interessa é o que se vira contra c