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A mostrar mensagens de 2008

Esquerda e moral

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Há tempos escrevi uma espécie de ajuste de contas pessoal com o marxismo, que republico aqui . Era um balanço das ideias marxistas radicais que professei na minha juventude - e talvez uma tentativa de encontrar uma saída do niilismo centrista em que me mantive desde que as abandonei, há 29 anos. Mas bater no marxismo é fácil, dada a sua completa falência histórica. O que não é nada fácil é imaginar o que se lhe segue, como filosofia do pensamento e da acção progressista. Era nesse ponto que o meu artigo me deixou insatisfeito. Pensar no futuro, pois. Deverá haver uma continuidade do pensamento progressista? Sem dúvida, pelo menos para manter o equilíbrio político. Com tantos problemas difíceis a exigir soluções, da situação ambiental à crise económica, das desigualdades no mundo às opções morais individuais, da concepção do estado e do cidadão à visão do mundo, tem que haver um renascimento do pensamento progressista gerador de políticas mais criativas, de opções mais interessantes

Marxistas de todo o mundo…

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Uni-vos? Ná! Bem, a verdade é que se tu, leitor, ainda és marxista, o único conselho que tenho para ti é teres juízo. No entanto, há questões relacionadas com o marxismo que enchem de perplexidade qualquer um, em especial um ex-marxista como eu. A principal delas é: qual é o lugar histórico do marxismo? A segunda é saber onde é que esta ideologia estava errada. Ou dito de outro modo, onde é que eu errei ao aderir àquilo? Isto são perguntas relacionadas com o passado, com o rescaldo dos nossos erros, ou, já que escolhi não fugir com o rabo à seringa, com um exame de consciência pessoal. A última questão, porventura a mais importante, tem a ver com o futuro. E agora? Depois do marxismo, o quê? Posso deixar correr para o oblívio as minhas memórias, dizer apenas, quando elas me importunam um pouco, "oh, que idiota eu fui, que idealista inocente", e ficar-me por aí. Mas fica a questão do lugar do marxismo na História. Aquilo foi um sonho lindo que não resultou? Ou antes um

Susan e Janis

Esta noite saí e bebi uma quantidade apreciável de gin-tonics. Portanto vou falar de coisas de que normalmente não falaria. Leonard Cohen é o meu grande herói cantor. Nem sequer canta grande coisa, mas exprime coisas profundas e simples que mais de uma vez me deixaram à beira das lágrimas (o que para mim não é nada fácil). No meio dos anos 60, a canção que fez o sucesso de Leonard Cohen foi "Susan". Aqui está uma interpretação em duo com Judy Collins (que foi a primeira intérprete) em 1976. Suzanne takes you down To her place near the river You can hear the boats go by You can spend the night beside her And you know that shes half crazy But thats why you want to be there And she feeds you tea and oranges That come all the way from china And just when you mean to tell her That you have no love to give her Then she gets you on her wavelength And she lets the river answer That youve always been her lover And you want to travel with her And you want to travel

A Guerra de Três Biliões de Dólares

Joseph Stiglitz ganhou o Nobel de Economia em 2001 com um estudo sobre os "mercados com informação assimétrica" e demonstrou que as transacções favorecem sempre os que dispõem de mais informação, pregando com isso o último prego no caixão do liberalismo económico. Diz ele que a razão porque a mão invisível de Adam Smith é invisível é porque "ou está paralítica ou não existe" . Stiglitz escreveu recentemente um livro, "The Three Trillion Dollar War" , estimando os custos reais da guerra do Iraque (3 triliões de dólares para um americano são 3 biliões de dólares para um europeu, ou US$ 3 000 000 000, ou ainda US$ 3,0E+12. De notar que o Produto Mundial Bruto são 65 biliões de dólares, ou US$ 65E+12 — ver post anterior ). Já há uns tempos que ando a matutar sobre os custos das guerras nos tempos modernos. Em todos ou quase todos os casos, nas últimas décadas, creio que os custos foram ruinosos, quer para agressores quer para agredidos. Até, digamos, tal

O que são 1,2 biliões de dólares?

Só num dia, na Wall Street, foi destruído todo o produto nacional bruto da Rússia ou da Coreia do Sul. Isto sem contar com descidas dramáticas nas outras bolsas mundiais. Pior ainda, as descidas (ou melhor, quedas) vão continuar... Em 29 de Setembro de 2008, na sequência da falência do voto no Congresso dos EUA sobre a proposta de George W. Bush do fundo de 700 mil milhões de dólares (700 biliões, na denominação americana) para impedir a derrocada da bolsa de Nova Iorque, esta entrou em pânico. Ao saber-se do fracasso na Câmara de Representantes, o índice industrial DOW desceu abruptamente 770 pontos, o que corresponde a 1,2 biliões de dólares (ou 1,2 triliões americanos) em perdas no valor dos títulos. Para se perceber a escala da catástrofe, pode-se dizer que num dia foram destruídos 2% do produto mundial bruto, ou seja, todo o produto nacional bruto da Coreia do Sul ou da Rússia! Ou ainda, quase 55 vezes o produto nacional bruto português (230.500 milhões de dólares PPP

Esbjörn Svensson ao vivo

Esbjörn Svensson Trio interpreta "Serenade for the Renegade" live no festival Jazz à Juan Les Pins festival em França em 19 de Julho de 2003.

Três híbridos em série impressionantes

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Eis três veículos impressionantes que mostram o futuro das novas tecnologias automóveis. Os três são híbridos plug-in em série (gerador-bateria-motor) com motores eléctricos inseridos nas rodas, logo sem qualquer espécie de transmissão mecânica. Plug-in quer dizer que podem ser carregados por uma tomada de corrente doméstica. O gerador é um pequeno motor de combustão interna que só é chamado a trabalhar se a viagem for muito longa ou o condutor for muito tipo fórmula um. Todas as baterias são de iões de lítio, como baterias de telemóvel gigantes. É de notar que só um deles saiu dos esforços da grande indústria (Mitsubishi). Mini QED De fotos_do_Blog O Mini QED é um veículo de demonstração de alta performance criado pela PML Flightlink (empresa inglesa que também fabrica micromotores para electrónica, joysticks, etc.), pioneira da roda-motor, para chamar atenção para esta tecnologia por parte da indústria automóvel e do público. A tracção às quatro rodas é controlada por um comp

Teste Flash 2

Estudo de pés

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Terei de fazer estudos de vários pormenores da composição. Sempre fui preguiçoso a desenhar pés e mãos, portanto este aspecto é importante. O principal problema, mais tarde, vai ser a cara. Criar a expressão dramática certa e a posição correcta (mas dinâmica) da cabeça e dos ombros vai ser uma empreitada. Todo esse processo vai ser documentado aqui. Usei o programa Art Rage2, que vinha com a mesa Wacom Bamboo . Menos sofisticado que o Photoshop ou o Gimp , mas muito intuitivo e com ferramentas muito giras!

A minha Pietà

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Tinha pensado fazer disto um óleo, mas vou começar por uma ilustração digital. Há muito que este tema anda na minha cabeça: a velha Pietà de Miguel Ângelo, mas sem o filho ser deus e a mãe ser santa. A velha tragédia num olhar mais humanizado, servida pelos meus parcos recursos. Primeiro esboço. Visualizar no tamanho real Vou publicando os esboços e continuar pelas diversas fases de acabamento. Por fim, eventualmente farei o óleo. Este é o primeiro esboço. Gosto da mãe, está dinâmica e expressiva. O filho terá de ser redesenhado, pois não há forma de a cabeça dele estar amparada pelo braço dela. Tenho de fazê-lo semi-reclinado. O cenário que surgiu na minha cabeça é este. Poderá ser Colômbia, Bolívia, Brasil, não interessa. Não é uma afirmação política. Se o fizesse no mundo árabe ou em África, teria tendência a ser visto como um tomar de partido em conflitos locais. Fugi daí porque quero dizer: qualquer mãe, qualquer filho, em qualquer parte do mundo.

Investigação a uma padeira

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[Aparte sobre o pintor Rafael mencionado na mensagem anterior ] As obras de Rafael são uma delícia para os olhos. Ainda mais para alguém como eu, militante de base que paga de vez em quando as quotas do partido da arte, olhando com humildade para o que faz um dirigente histórico. Mais do que o público, o praticante compreende os problemas técnicos e artísticos resolvidos de forma genial nas obras dos grandes mestres.   Rafael, La Fornarina (A Padeira) , Palácio Barberini, Roma. Fonte: Wikipedia . Passe o rato sobre a imagem para ver a correcção do tamanho da cabeça. Pode ver ver aqui, na Wikipedia, o quadro ampliado. Mas o praticante vê-se também confrontado com insidiosas questões: as imperfeições que saltam aos olhos. Que fazer? Quem sou eu para criticar Rafael? E serão mesmo imperfeições? A forma de olhar para o corpo humano evoluiu. Hoje somos assaltados constantemente por fotos que nos demonstram de forma mecânica, quais são as suas proporções. Eis aqui Rafael a r

Viagens na Web

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Decidi aprofundar as razões porque gosto do Barroco e da arte barroca. Escrever sobre um assunto leva muitas vezes a uma mudança de perspectiva, porque ideias simplistas são postas em causa, conhecimento acriticamente recebido exige prova e, invariavelmente, fico espantado com o pouco que sabia. Toca de pesquisar o barroco então, como preparação de uma mensagem (ou série delas) sobre o assunto. Eu já sabia que a primeira ideia a cair seria a noção, promovida pelos historiadores de arte alemães do séc. XIX, neoclássicos, que o vêem como uma degenerescência da pureza clássica 1 da Renascença. É sina de cada período de arte ser crismado pelos seus detractores. Já os da Renascença, admiradores da Antiguidade Clássica, desprezavam a arte da Idade Média, arte de bárbaros, de Godos. Gótica, portanto. Pela qual mais tarde os Românticos, que desprezavam o racionalismo clássico, se apaixonaram. Onde começa o Barroco e onde termina? Para conhecer o Barroco tem que se partir da Renasc

Alguns aitemes para discutir

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Não sou nacionalista, mas gosto das nossas coisas. Uma das coisas que temos e eu gosto é a língua. Na verdade fui programado para gostar dela, tal qual fui programado para gostar da minha mãe e do meu pai. Nunca tive escolha... Portanto nasci dentro do português, cresci lá dentro e penso em português. Nada de especial, milhões de pessoas fazem isso! Gostar de ser o que se é e de amar o que se foi programado para amar, a isso os psicólogos chamam estar integrado. Eu estou. Lucidamente, sei que o português é uma língua como muitas outras. Mas é a minha! Também não sou purista em relação à língua. A língua é um código vivo, sempre criado e recriado por todos os que a usam para falar, pensar e escrever. Novas ideias expressas por palavras vindas de outras línguas? Venham elas! Esperar que um linguista encartado aprove novas palavras e as autorize a circular? Ridículo! Liberta da prisão académica dos literatos oitocentistas, a língua evolui de novo com rapidez, propulsionada pela or

Resolver o nosso problema demográfico é fácil

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Num aparte sobre o assunto da mensagem anterior , lembrei-me da recente preocupação nacional com a taxa de natalidade. Íamos ser um país de velhos, a Segurança Social iria falir, etc. Urgia que o governo pusesse cobro a este estado de coisas, subsidiasse os nascimentos, apoiasse os casais com muitos filhos... Não se disse que os velhos que seremos (ou já somos) terão uma vida activa mais longa, e produtiva, por por terem maior esperança de vida e gozarem de melhores condições de saúde. Não se disse que as pessoas têm menos filhos não por falta de dinheiro, mas porque têm um pouquinho dele (ou crédito) e algumas condições de vida que querem melhorar, tanto para elas próprias como para os seus descendentes. Numa sociedade dominada pela informação (enfim, um bocadinho...) a interrupção de uma carreira laboral é perigosa, porque pode isolar o trabalhador das últimas novidades e comprometer a sua capacidade de competir. Por outro lado, a mesma sociedade da informação leva-nos a inve

O fim dos tempos

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No texto Donos e Deuses 2, referi-me de forma optimista ao fenómeno do fundamentalismo religioso, crendo que era uma tendência passageira que se iria esbater e que a secularização das sociedades iria continuar. Mas continuei a pensar sobre o assunto e entrei por vistas mais sombrias. Não parti de ideias religiosas que, na verdade, seriam a explicação mais simples para o aumento do fundamentalismo: todos os deuses decidiram de repente espevitar os seus fiéis, talvez depois de declararem uns aos outros uma guerra de marketing . Para um romance, era um bom cenário, com um grande problema: qualquer deus que ganhasse o conflito, os adeptos dos outros queimariam o livro (e/ou ou autor). Se todos ganhassem ou perdessem, não teria piada, e mesmo assim os fiéis quereriam queimar o livro. Não, agora a sério, o problema tem a ver com o petróleo e com a comida. Com a sua falta, mais exactamente. O petróleo vai continuar a subir, devido a que a sua procura aumentou. Cada vez mais pessoas pre

Genes e memes

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Tendo escrito e ilustrado o texto anterior, comecei-me a preocupar com a defesa das ideias que exprimi. Não sou cientista nem filósofo e para manter este blog e a minha página pessoal só disponho de umas quantas horas à noite, roubadas ao sono. Provar ou invalidar a ideia de que a socialização do homem é parecida com a domesticação do cão está fora das minhas capacidades. Seria precisa larga pesquisa em psicologia comparada. Portanto, o meu texto é uma opinião amadora, baseada numa longa experiência como dono de animais e numa infância com muito contacto com a religião. Possa quem ler o texto divertir-se tanto a lê-lo como eu a escrevê-lo. Mas não se trata de uma paródia. Acredito seriamente que o que exponho tem mais que um grão de verdade e explica alguns aspectos do comportamento da nossa espécie, nomeadamente o lugar que a religião ocupa em todas as sociedades humanas. Um cão não é capaz de sentimento religioso? O animal pensa e exprime um leque bastante variado de emoções.