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A mostrar mensagens de 2011

O nó górdio

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A crise assola a urbe e a orbe e eu pouco tenho dito sobre ela. Não que não tenha pensado sobre a crise, mas antes porque não encontro verdadeiras soluções. Quero dizer, soluções fundamentais. Ou melhor, encontro, mas parecem-me inalcançáveis. É melhor eu explicar.

Não tires o chapéu

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O meu último casamento desmoronou-se mais ou menos ao mesmo tempo que as torres gémeas de Nova Iorque. Desde então tenho vivido essencialmente solteiro, o que me tem surpreendido, pois não tinha feito planos para tal. Mas parece ser um estado mais ou menos sustentável. Razões porque sim ou porque não escapam-me, nem é esse o tema deste texto. Por um lado não tenho vocação para uma vida de ascese e oração, mas por outro certos aspectos da minha personalidade moderadamente Asperger vedam-me o acesso aos encontros fortuitos e ao sexo comercial.

A última valsa

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No Vitória Clube das Quintinhas, o baile se São João é um sucesso relativo. Para um clube que tenta recuperar a dinâmica, o facto de terem comparecido sócios em número apreciável é bom. O grande recinto não estava cheio, mas os corpos gerentes dão-se por satisfeitos. É um passo na direção certa. Depois das sardinhas que estavam gordas e das febras saborosas, alguns pares evoluem no terreiro, ao som da música pimba de Euclides e Durão , um duo veterano nestas andanças, com órgão dotado de batida sintética e vocalista. Abriram com “Marina, Marina, Marina”, imaginem. Foi um sucesso nos anos 60, era eu garoto, lembro-me perfeitamente. No todo, uma noite feliz.

Radiator Springs

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O neto, de seis anos, representa o Faísca na wii e desloca-se velozmente pela paisagem distópica de Radiator Springs , colecionando bónus ao passar por umas bandeirolas penduradas em sítios inesperados. Entretanto a sua condução é pelo menos estranha, para alguém que já tenha experimentado conduzir no mundo analógico. Colide com obstáculos sem problemas, choca com outros automóveis de propósito, atravessa o mato sem qualquer consciência ambiental. A avó, de 80 anos, chama-lhe a atenção. Acha errado colidir de propósito com os outros veículos. “Avó, tu não sabes do que estás a falar! Eu bato nos carros porque quero. Olha, eu não perco pontos por isso! Vês a minha pontuação?” Ao contrário da avó, o neto sabe que o mundo digital não tem nada a ver com o mundo analógico, nem sequer é uma representação dele. Outras regras se aplicam. E o contrário, também saberá? Quando um dia conduzir, saberá que está num mundo diferente, com regras inteiramente novas?

‘Sopa’ de beldroegas

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A tertúlia gastronómica reuniu-se para degustar uma ‘sopa’ de beldroegas. Estas estão no tempo certo, dizem os apreciadores. Por sopa deve entender-se uma açorda à alentejana, com grandes bocados de pão, as ervas e temperos do costume e ovos escalfados. O ‘conduto’ foi assegurados por umas belas postas fritas de achigã pescado por um dos convivas. Acompanhou um vinho tinto do Poceirão e houve sessão de anedotas no fim.

Correntes de ar

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Toda a gente sabe que as constipações e gripes se devem a infeções, que são quase sempre virais (quase sempre no caso das constipações, sempre no caso das gripes), não é verdade? Não. A maioria as pessoas não sabe ou, mesmo que saiba, ignora o que sabe quando se trata de pensar nessas doenças. As recomendações que a minha mãe (hoje com 95 anos) e as pessoas do seu tempo me faziam quando eu era garoto ainda são feitas hoje: Agasalha-te, olha que te constipas! Cuidado com as correntes de ar! Andas para aí todo suado, ainda apanhas uma gripe! Na verdade isto tornou-se evidente para mim outro dia, quando um dos meus colegas de trabalho, uma daquelas pessoas sempre obcecadas com doenças, se mostrou receoso do efeito das correntes de ar na sua saúde.

O planeta

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Sarilhos no nosso quintal Os portugueses, coitados, andam muito preocupados com a sua crise. Não é para menos, evidentemente. De vez em quando, até cá se passam coisas importantes. Mas se levaram até aqui ensimesmados numa sociedade iludida com promessas de prosperidade sem ter que descobrir novas fontes que a justificassem, enleados na complacência com a corrupção enquanto esta mantivesse um ar simpático e bonacheirão, agora muitos mudaram de ponto de vista e começaram a preocupar-se.

O princípio do fim da democracia nos Estados Unidos

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A 21 de Janeiro de 2010, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu que as empresas tinham o mesmo direito à liberdade de expressão que os cidadãos. Essa decisão autoriza as corporations a gastar tanto dinheiro quanto queiram a comprar as eleições, tanto através de campanhas diretas de publicidade como através de contribuições monetárias para os candilados, limitando drasticamente a sua liberdade política.

Portugal trabalha

“Os portugueses, em média, passam quase nove horas por dia a trabalhar. Portugal é o país europeu onde se trabalha mais horas, com e sem vencimento, por dia. Em média, os portugueses trabalham no total cerca de 8 horas e 47 minutos todos os dias, ocupando o terceiro lugar no ‘ranking' dos países da OCDE. Para além disso, ainda a nível europeu, os portugueses são os que mais horas diárias trabalham sem vencimento, com cerca de 3 horas e 53 minutos. Um volume de trabalho que representa 53% do PIB nacional e que nos classifica em quarto lugar da tabela da OCDE.

Liberdade e solidariedade

Estive a fazer um questionário a mim próprio, no sentido de esclarecer a minha posição política. Uma posição política é necessariamente pública, por isso aqui dou conta do resultado, por enquanto (ou sempre) provisório. Pode ser que interesse outros que se põem os mesmos problemas. A questão de fundo é: que se pode fazer para melhorar a sorte de todos os seres humanos? Será possível fazer chegar a prosperidade a toda a humanidade e ao mesmo tempo assegurar uma sustentabilidade futura da nossa espécie neste planeta e arredores? Será possível isso e ao mesmo tempo manter e aprofundar sociedades abertas assentes sobre valores humanistas?

Exercício moral

Imaginamos que sempre fomos assim. Que sempre tivemos os gostos, opiniões e posturas perante a vida que temos hoje. Essa ficção é possivelmente necessária para assegurar a nossa estabilidade mental e está de certeza ligada a outra ficção, a da continuidade do eu. A continuidade da memória, que nos faz actores e espectadores do filme da nossa vida, é a base da nossa identidade pessoal.

Da minha mansarda

Ainda não estamos habituados...

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...mas já hoje vivemos bastante na cloud .

Um javali? Snif… Onde?

Nem só o Obélix era doido por javalis. A minha tertúlia gastronómica também não desdenha ferrar o dente num. Este não foi morto por nenhum dos Tertúlios mas, devido aos acordos entre caçadores, coube uma parte a um dos convivas, que logo a partilhou com os restantes. Javali não é fácil, nem vivo (dizem) nem morto. Bicho seco e atlético, a sua carne pode ser uma desilusão se preparada por quem não sabe. A Elvira estudou o problema e veio de lá com esta grande feijoada alentejana, com a carne brava dopada por pedaços do primo mais manso, enchidos e muitos coentros. Eu, por mim, junto umas pingas de bom piri-piri caseiro. Tudo com vinho tinto da zona do Poceirão, azeitonas e pão.

O império do spin

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Estou farto de pensar em soluções para a presente crise — tanto no seu aspecto nacional como na sua dimensão internacional — e sinto-me frustrado, porque nada me ocorre que funcione. Por todo o lado, apenas vejo reações impotentes ou velhas ideias requentadas. Muito ruído, nenhum sinal. Dispenso-me aqui de analisar a crise, porque para o que vou dizer a seguir, isso não interessa.