Igreja Católica portuguesa e Covid-19: Demissão?

(Ponto prévio: Como sabem, sou ateu, mas este texto não é contra a Igreja Católica. Como ateu, sou defensor feroz da liberdade religiosa, até porque nela se inclui a minha liberdade de não ter religião, bem como a liberdade de pensamento e de culto dos católicos e de todos os outros. O que me preocupa é, como cidadão, a contribuição que a Igreja Católica poderia dar, com o seu peso político e influência moral, nesta nossa crise pandémica, para melhorar a nossa resposta coletiva.)

[Fonte: Observador]

Tenho tendência a, por vezes, notar o que não foi dito. De repente, comecei a pensar: Espera lá, não me lembro de grandes tomadas de posição da Igreja Católica sobre a Covid-19! Fui perguntar ao meu amigo Google.

Evidentemente que havia muita coisa. Diretivas da Conferência Episcopal com recomendações sobre o culto, jornada de oração nacional, os problemas com a peregrinação a Fátima, o protesto de 500 católicos contra a proibição da comunhão na boca (estes não ajudaram nada), a ideia de um padre de que a igreja devia ceder os seus edifícios para serviços de saúde de emergência.

Claro que as instituições católicas ligadas à saúde e à assistência colaboraram. Tenho a certeza também que muitas paróquias e comunidades locais mobilizaram os seus voluntários para fins solidários e caritativos.

[Fonte: Observador]

Mas as posições da hierarquia central foram na essência centradas na defesa do culto e na preservação da instituição. Tudo coisas viradas para dentro.

O que não vi ou aconteceu muito pouco ─ para além das posições internacionais do papa Francisco, que foram, na minha opinião, bastante positivas ─ foi uma liderança moral, dirigindo-se diretamente a todos os fiéis e aos cidadãos, apelando à sua consciência, à sua solidariedade, união, altruísmo. Provavelmente, tal posição teria tido um efeito positivo.

Por exemplo, um apelo ao cumprimento das regras sanitárias, à solidariedade, ao voluntariado, com diretivas para que os padres, nos seus púlpitos, fizessem ecoar essa mensagem pelas aldeias e pelos bairros, podia ter ajudado muitas pessoas a orientar-se, a colaborar, a ser solidárias. Essas pessoas podiam talvez fazer diferença na comunidade.

Sendo dona de um grande megafone, também não vi a Igreja Católica de Portugal a ajudar os fiéis a não se deixarem desorientar pela má comunicação e pela desinformação. Podiam ter dito aos seus fiéis: Não acreditem em boatos, cumpram as regras, defendam os mais fracos. O papa Francisco fez isso, quando disse que a epidemia de boatos era mais perigosa que o vírus.

Evidentemente que uma tal posição teria beneficiado imenso a instituição, além de nos beneficiar a todos.

Pronto, é isto. Posso estar enganado e ser injusto, porque não sou o mais atento seguidor das notícias nacionais. Se tal comunicação aconteceu, passou-me ao lado.

Sintam-se livres para corrigir-me, se acham que estou a ser injusto.

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