Óscar Lobão


Meio caniche, meio cão de água, o Óscar Lobão pertence a Luís Lobão, o meu patrão. Daí o apelido. Mas passa pouco tempo em casa do dono, pois prefere ser um trabalhador não assalariado e não produtivo da Tipografia Lobão.

Entra ao serviço logo de manhã, percorrendo todas as secções. Acaba por se dirigir ao seu caixote, ao lado da minha secretária. Não sei o que faz de noite, mas vem quase sempre estafado, sujo e cheio de sono. A primeira tarefa do dia para mim é fazer lhe uma sessão intensiva de massagens nas orelhas. Depois enrosca-se e dorme, só interrompido pelos visitantes que lhe fazem festas. Perto da hora do almoço, começa a interessar-se pelo mundo. Entra na casa de banho e ladra a chamar alguém que lhe abra a torneira do bidé, ou então vai à recepção e exige um copo de água mineral da fonte. Procura então saber qual o carro que vai seguir em direcção ao restaurante.

À tarde, é quase sempre o último a sair. Tem muitos amigos, entre trabalhadores e clientes, mas tem também grandes ódios, em particular um vendedor de lotaria, a camioneta que vem recolher o papel para reciclar e a sua tripulação.
A grande maluquice do Óscar são as bolas. Corre atrás delas, mastiga-as, destrói-as, esconde-as, perde-as, mas há sempre quem lhe ofereça bolas novas. Quando lhe apetece brincar, faz a bola deslizar discretamente para junto de quem quer convidar. Mesmo uma bolinha de papel serve para abocanhar e destruir. Se a bolinha estiver quase inacessível, aí temos o Óscar a mostrar dotes de atleta.

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