O império do spin
Estou farto de pensar em soluções para a presente crise — tanto no seu aspecto nacional como na sua dimensão internacional — e sinto-me frustrado, porque nada me ocorre que funcione. Por todo o lado, apenas vejo reações impotentes ou velhas ideias requentadas. Muito ruído, nenhum sinal.
Dispenso-me aqui de analisar a crise, porque para o que vou dizer a seguir, isso não interessa.
É que eu cheguei à conclusão que a chave da questão está nos mecanismos de ação política, ou mais precisamente, no seu bloqueio.
Nas democracias modernas, deixou de ser possível coagir o povo pela força. Mas o povo continua coagido, manipulado para votar sistematicamente contra os seus interesses, desinteressado ou suavemente expulso dos assuntos do governo e da decisão. É que, como diz Noam Chomsky, o cassetete foi substituído pela propaganda.
Nos últimos vinte, trinta anos, a propaganda tornou-se mais refinada, correspondendo às exigências de uma sociedade com grande acesso à informação. Entrámos na era do spin.
Qualquer ação política, sobretudo se for de cariz democrático e popular, terá de fazer duas coisas quase contraditórias:
- Terá de usar sofisticadas técnicas de comunicação para conseguir vencer o bloqueio informativo às suas propostas. Terá de combater o spin com o spin.
- Deverá promover entre o povo a literacia da comunicação, de forma a torná-lo consciente das formas usadas para o manipular e, dessa forma, invalidá-las automaticamente. O objectivo é enfraquecer e matar o spin.
Qual a via para levar a cabo esta ação política? Disso falarei mais tarde. Para já, gostava que se pronunciassem sobre as ideias que acabei de exprimir.
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