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A mostrar mensagens de 2009

O Verdadeiro Espírito de Natal

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Nesta quadra, é habitual ler lamentos de pessoas católicas ou tradicionalistas, queixando−se de que se perdeu o verdadeiro espírito de Natal. Que o materialismo e o consumismo imperam, que os cidadãos só pensam nas compras e nas prendas e esqueceram o aspecto espiritual do Natal. O aspecto espiritual do Natal talvez seja ter um presépio em vez duma árvore decorada, contar às crianças a história do Menino Jesus em vez da do Pai Natal, pôr os sapatinhos na chaminé em vez de perto da árvore, sair a meio da noite de 24 para 25 de Dezembro, enfrentando frio, chuva a se calhar neve, com crianças de colo e tudo, para ir à missa do Galo ouvir um padre debitar uns lugares−comuns requentados numa igreja gelada, com saudades dos lençóis caseiros. (Se calhar as igrejas agora já têm aquecimento; não vou lá muito, não sei.)

Óscar Lobão

Meio caniche, meio cão de água, o Óscar Lobão pertence a Luís Lobão, o meu patrão. Daí o apelido. Mas passa pouco tempo em casa do dono, pois prefere ser um trabalhador não assalariado e não produtivo da Tipografia Lobão. Entra ao serviço logo de manhã, percorrendo todas as secções. Acaba por se dirigir ao seu caixote, ao lado da minha secretária. Não sei o que faz de noite, mas vem quase sempre estafado, sujo e cheio de sono. A primeira tarefa do dia para mim é fazer lhe uma sessão intensiva de massagens nas orelhas. Depois enrosca-se e dorme, só interrompido pelos visitantes que lhe fazem festas. Perto da hora do almoço, começa a interessar-se pelo mundo. Entra na casa de banho e ladra a chamar alguém que lhe abra a torneira do bidé, ou então vai à recepção e exige um copo de água mineral da fonte. Procura então saber qual o carro que vai seguir em direcção ao restaurante.

As administradoras da vida

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Estava eu a dormir no quarto de hóspedes duns amigos meus quando fui despertado pela rotina matinal de uma mãe a despachar as suas duas filhas para a escola. Lavar, vestir, tomar o pequeno-almoço, lavar os dentinhos, as mochilas, o carro, as horas. Suplicava, ameaçava, tentava vários tons de voz, repetia-se constantemente. As crianças, aparentemente, estavam noutra. Pareciam apostadas em torpedear, através da resistência passiva, o horário apertado da mãe. A voz dela denunciava um stress crescente.

Ruínas da memória

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Fui ver ruínas históricas e ruínas pessoais. Quanto às históricas, visitei o castelo de Paderne. Como o dinheiro e a pedra não abundavam, os Mouros construíram o castelo em taipa 1 , pintando nas paredes uma alvenaria fingida para enganar os inimigos cristãos. Oito séculos mais tarde, se calhar pelas mesmas razões, falta de fundos e pedra, o meu avô materno, no início do século vinte, usou a mesma técnica construtiva para erguer um casebre para a sua numerosa família, antes de se finar de forma muito temporã. Não fingiu alvenaria, antes pintou tudo com singela cal.

Globalização no Portugal profundo

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Praia do Alfamar, 18/09/09 Finalmente estou a trabalhar para o bronze. Já tenho até umas queimaduras, sem as quais não me atreveria a voltar à Grande Lisboa. Já não tenho família em Portimão, onde cresci, pelo que desta vez vim parar a Boliqueime, terra dos meus pais. O Algarve que eu conheci em garoto já não existe (felizmente!). Saí de cá cedo, sem ter acompanhado as grandes mudanças que o tempo e o turismo operaram. As pessoas falam-me de  uma nova toponímia com nomes de empreendimentos turísticos (Quinta do Lago) ou praias outrora ignoradas que se tornaram famosas por causa de gente famosa (do Alemão, dos Tomates, do Ancão). Não conheço nada disso. Boliqueime, pelo contrário, está cheia de imagens da minha infância. Houve muita construção, é claro, mas nada da avalanche de betão que soterrou os Olhos de Água, por exemplo. Apesar do mar se ver no horizonte, a distância da costa salvou o sítio. Ando pelas ruas sonolentas esmagadas pelo sol, vejo casas que reconheço, os

Biostase

Vamos imaginar que é necessário salvar o mundo. Mesmo a sério? Que ferramentas são necessárias? Tenho uma cabeça de designer e, uma vez posto o problema, não pude largá-lo. Levei umas boas seis semanas a escrever este artigo, o que não é muito, se considerarmos a importância do assunto. O resultado pode levar-me a ser apedrejado de vários quadrantes, o que também é normal para quem tente salvar o mundo. Leiam e critiquem, por favor. O artigo é um pouco grande para o blog, portanto foi para o meu site:   Biostase — artigo em www.carloscabanita.eu

Sushi

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Consegui viver 57 anos sem ter provado sushi. Essa privação finalmente acabou. Foi uma revelação. Sabores suaves e ricos, em especial os peixes. O estranho arroz japonês. As algas. Uma massa picante estranhamente suave mas poderosa. Os pratos também são uma festa para os olhos. Não vejo a hora de voltar a experimentar.

Acabou a festa (comentário)

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O post  anterior, Acabou a festa! , incomodou os meus amigos comunistas, como era de esperar. Houve quem me chamasse anticomunista primário (nunca vi ninguém ser chamado anticomunista secundário, é um daqueles chavões), mas a maioria escolheu pegar na descrição que fiz do meu stress psicológico na festa e dos incidentes de distracção e ignorar os considerandos políticos iniciais. “Esqueceste-te da EP e tiveste problemas com o telemóvel, e que culpa têm os comunistas disso?” Nenhuma, claro. Eu tenho as minhas maluquices, mas não sou doido varrido. Mas o stress precipitou a conclusão de uma reflexão de há anos, a de que, pessoalmente eu, Carlos Cabanita, não tenho nada a fazer lá. Foi o que eu disse: “Os contratempos e o desconforto são apenas indicadores de uma decisão política, estética e ética que tem de ser tomada. Conheço os sinais. Um tera ou dois de informação mudam de sítio na minha cabeça. Pro nto, já está. Não volto cá mais.” Falo português, ou quê?

Acabou a festa!

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Há muitos anos que frequento a Festa do Avante!, ano sim, ano não, nunca mais que um dia por sessão. Não concordo com praticamente nada do que lá se diz e aquelas imagens de mobilização de amplas massas comunistas, tudo cheio de foices e martelos e bandeiras vermelhas, trabalhadores de 50 anos de punho no ar e jovens a dançar a Carvalhesa, têm o seu quê de inquietante. Encarei aquilo como uma espécie de universo paralelo. Um faz-de-conta gigante. 1989 não aconteceu. A União Soviética ainda existe e Brejnev ainda manda nela. O “socialismo” ainda é “real”. Os gulags são ainda negáveis. A maioria dos intelectuais ainda acredita no marxismo. A queda do último dos manos Castro em Cuba não é questão de meses. O marxismo não faliu. O PCP não está isolado no mundo. Ainda é um grande partido de massas e não foi ultrapassado pelo Bloco de Esquerda. Ano após ano a ilusão vai-se desvanecendo. A Cidade Internacional, outrora povoada de poderosos “partidos irmãos” da Europa de Leste, cheios de

Terroristas

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Não gosto de terroristas, e não é de agora. Mesmo quando eu era um marxista radical, nos anos setenta e oitenta do século vinte, nunca aceitei o terrorismo como via política fosse para onde fosse, ao contrário de muitos que tendiam a vê-lo com romantismo. Que desprezo supremo pelo povo é preciso para contemplar a possibilidade de assustá-lo como gado, com actos sortidos de violência, para levá-lo a aceitar os objectivos de uma minoria! O povo não gosta disso. Sempre que pode reage de forma brutal, ou apoiando medidas brutais, contra os terroristas. Não se confunda com luta armada contra regimes opressivos, que pode tomar aspectos de guerrilha ou incluir atentados contra alvos militares ou policiais. Pode-se discutir se a luta armada é ou não uma via política eficiente (eu penso que geralmente não é, mas depende das circunstâncias). Os regimes opressores têm vantagem em acusar os seus opositores mais violentos de terrorismo. Mas o terrorismo que me interessa é o que se vira contra c

Haikai, haiku

Lua na estrada, Luz amarelada. Finda a noite…   Forma de poesia tradicional japonesa, haikai , plural haiku . Ligada à filosofia Zen. O que quer que se queira dizer tem que ser dito em poucas e estritas palavras, dentro de uma métrica rígida e respeitando ainda outras regras. Muitos dos cultores ocidentais do estilo adoptam o formato em três versos, com cinco-sete-cinco sílabas, 17 ao todo (a métrica japonesa não se mede em sílabas, dizem). Outros usam seis-sete-seis. Mas a forma costuma ser m-n-m. O poema deverá na tradição japonesa ter uma menção meteorológica ou sazonal (kigo). No Ocidente muitas vezes omite-se isso — usa-se experiência pessoal e não as imagens estritamente contemplativas da forma tradicional. Importante é o corte (kireji) . O sentido da frase deverá ser cortado, no fim de um dos versos, e uma nova ideia expressa depois. Noutros casos, o corte aparece no fim, dando ao poema um aspecto conclusivo. A rima não é relevante. O haikai do

O galo

Ando a ser convidado para os mais diversos convívios — e gosto. Por este andar, tenho que pôr-me a pau com a linha, o castrol e todas essas coisas. O projecto galo de cabidela andava a ser “cozinhado” há tempo, mas o bicho sobrevivia sempre, pelas mais diversas razões. Ou o criador, o Januário, não tinha tempo, ou o Oliveira, promotor do evento, tinha obrigações familiares, enfim, a esperança de vida do animal parecia boa.

Mulheres realmente interessantes

As mulheres realmente interessantes são muito raras. Devem ser tratadas como um recurso escasso. A sua existência, por si só, é um milagre. Devem ser amadas, mimadas, apaparicadas, admiradas, acarinhadas, tudo menos deixá-las fugir. Uma vez que as deixemos fugir (e podem sempre fugir, mesmo que façamos tudo isto), são terrivelmente difíceis de substituir. Se eu fosse mulher, provavelmente diria o mesmo dos homens realmente interessantes. Amigo ou amiga, se amas, namoras ou és simplesmente amigo/a de uma pessoa realmente interessante, agarra-te a ela. Sabes a sorte que tens. Se não sabes a sorte que tens, esquece esta mensagem. Não era para ti.   [Não há mais nada para ver]

Come-se muito bem no Charnequeiro

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Nem sequer é um restaurante, mas um snack-bar , nas Quintinhas, Charneca de Caparica, onde moro. Mas a direcção culinária, a cargo da D. Elvira, coadjuvada pela D. Odete e pela D. Ana, é soberba. É cozinha portuguesa tradicional nada pretensiosa, mas com um belo equilíbrio de sabores. A massinha de peixe, de entrecosto ou de bacalhau, o frango do campo, o arroz de cabidela, o fricassé, o arroz de pato, o bacalhau à Charnequeiro, atraem aos almoços clientes de cada vez mais longe.

Os anos do presidente

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Eduardo Reis é presidente do Vitória Clube das Quintinhas. Um daqueles presidentes que o são porque eles é que fizeram tudo aquilo acontecer, quer trabalhando quer motivando outros para trabalhar. Desde que fundou o clube há uma data de anos até hoje, continua a dar a vida por ele. Não no sentido de morrer pelo clube, mas no sentido de viver para ele. É assim. Há os que morrem por um ideal e chamamos-lhes heróis. Há outros que dão por um ideal a sua vida vivida ao longo de muitos anos. Como chamamos a esses? O Reis fez anos, a direcção fez-lhe um almoço, ao qual não fui porque não sou da direcção, sou apenas sócio. Mas acabei por ir lá parar.

Teoria da Mente

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Encontrei menções à Teoria da Mente por acaso, enquanto pesquisava outros assuntos. Mas pareceu-me um grupo de ideias tão fértil que acabei por interessar-me. A Teoria da Mente não é nenhuma teoria. É o estudo de um conjunto de habilidades, aparentemente inatas ou activadas muito cedo na infância, que permitem a cada indivíduo elaborar uma teoria de como funcionam a sua mente e as mentes dos outros, estabelecer analogias e divergências com a sua própria mente e criar estratégias de relacionamento social. Os estudos da Teoria da Mente estão inseridos na Neurologia Cognitiva e remotamente relacionam-se com o trabalho de Jean Piaget. Estes estudos têm uma base científica muito séria, quase sempre ancorada em experiências devidamente controladas e em imagética cerebral, com zonas cerebrais precisas referenciadas como locais de processamento das várias instâncias da Teoria da Mente. Outra Neurologia relacionada, a Neurobiologia Evolucionária, concebe o cérebro humano não como uma tabu

Porque acreditamos em deuses

Transcrição em português Este vídeo tem dado muito que falar ultimamente. Filmado na Convenção American Atheists'09 em Atlanta, Georgia, EUA, em Maio deste ano, e publicado, entre outros lugares, no site de Richard Dawkins e no nosso português Portal Ateu , nele o psiquiatra dr. Andy Thomson explica as bases de uma Neurologia do pensamento religioso. Trata-se da explicitação dos mecanismos cognitivos criados durante a nossa evolução e de que o pensamento religioso se apodera. Aqui se mostra porque tantas ideias contra-intuitivas (para não dizer disparatadas) da religião são fáceis de aceitar para o comum das pessoas e porque o pensamento céptico exige quase sempre mais esforço. Como eu sei que muitos dos meus amigos portugas, embora saibam algum inglês, não têm a fluência suficiente para acompanhar esta conferência, resolvi transcrever todos estes 50 minutos de ideias fascinantes em Português. Qualquer erro, já sabem, fui eu. Isto deu-me montes de trabalho, portanto corresponda

Vera

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Conheci hoje a Vera, que vai ocupar um lugar importante no meu coração.

Teologia portátil

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O encontro de ídolos católicos no Tejo de 16 e 17 de Maio, com todo o cortejo de cenas desprestigiantes para a imagem do nosso país que se seguiu, irritou-me. Por causa disso, decidi comemorar o deslustroso evento à minha maneira e fui buscar um dos primeiros anticlericais, que viveu ainda no tempo do Ancien Régime francês e teve de assinar sob nomes falsos e publicar no estrangeiro para proteger o seu pescoço. Trata-se do barão de Holbach (1723-1789), Paul-Henri Thiri de seu nome. Encontrei um livro delicioso que se apresenta como "Teologia Portátil, ou Dicionário Abreviado da Religião Cristã" que finge ser um livro católico, editado por um pretenso Abade Bernier, "Licenciado em Teologia" , mas é tudo menos isso. O barão de Holbach, retrato de Alexander Roslin. Fonte: Wikipedia Frontespício da "Teologia Portátil" do barão d'Holbach. Fonte: Google Books Convém notar que o texto se refere a um tempo em que não existiam as liberdades de qu

Os ídolos e a Constituição

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Este fim-de-semana as forças do passado invadem Lisboa e Almada. A imagem da alucinação colectiva ou vigarice de Fátima (ou sábia mistura das duas, cuidadosamente alimentada pelo Vaticano) que desde 1917 persiste até ao século XXI, vem a Lisboa e a Almada saudar o meio século do mamarracho monumental que homenageia o Cristo autoritário e cúmplice das ditaduras, que perturba e inquina o skyline de Lisboa e Almada. Um encontro de ídolos. Constituição da República Portuguesa Artigo 41.º (Liberdade de consciência, de religião e de culto) 4. As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto. Artigo 275.º Forças Armadas 3. As Forças Armadas obedecem aos órgãos de soberania competentes, nos termos da Constituição e da lei. 4. As Forças Armadas estão ao serviço do povo português, são rigorosamente apartidárias e os seus elementos não podem aproveitar-se da sua arma, do seu posto

Cabeças de borrego

No alpendre da oficina de um amigo, pude provar enfim uma famosa iguaria alentejana, cabeças de borrego no forno. Comidas à mão e ao ar livre, em boa companhia. Bravo, sr. José Bentes!

All time favourites

Eis as minhas canções favoritas de sempre. Não digo que sejam as melhores, mas são as que, por uma razão ou por outra, me passam na cabeça mais vezes e fazem assim parte da banda sonora do filme que eu vivo. Don't think twice, it's all right Bob Dylan, "The Freewheeling Bob Dylan" , 1963, (a minha canção de separação) Venham mais cinco Zeca Afonso, 1973, "Venham mais cinco" , (a minha canção de separação política) Ária da Rainha da Noite W.A. Mozart, 1791, "A Flauta Mágica (Die Zauberflöte)" Cena do filme "Amadeus" com June Anderson "A Truta" "Die Forelle" , Lied/canção Op.32 (D.550) Schubert, 1817 (Interpretação de Ian Bostridge) Interpretação de Elizabeth Schwartzkopf Too much love will kill you Brian May/Queen, "Made in Heaven" , 1996 Romeo and Juliet Mark Knopfler/Dire Straits, "Making Movies" , 1980 Cover por The Killers (2007) Don't think twice it's all

Para o Joomla!, rapidamente e em força!

Já sabia do Joomla! , desde o tempo em que se chamava Mambo. Sabia que era um Content Management System (Sistema de Gestão de Conteúdos, CMS), mas nunca me interessei o suficiente. Porém, nos últimos tempos a Web 2.0 tem andado a pressionar-me. As páginas Web pedem cada vez mais conteúdos ricos e a minha forma de trabalhar está cada vez mais desadequada, com a mania de escrever quase todo o texto e código à mão, num editor de código. Cada página requer tempos infindos para codificar e para matar a bicharada. Manter o menu e os links de um site complexo é uma dor de cabeça. Ao mesmo tempo, escrever no meu blog mostra-se muito mais divertido, com acessórios complexos como os comentários, os RSS ou as galerias de imagens disponíveis sem esforço, quando, se os tivesse que escrever, teria que ir tirar um curso aprofundado de PHP e de Javascript. Foi então que... ...na zona Del.icio.us da minha página personalizada do Google aparece uma entrada a dizer "I'm sorry but Dream