Haikai, haiku
Lua na estrada,
Luz amarelada.
Finda a noite…
Forma de poesia tradicional japonesa, haikai, plural haiku. Ligada à filosofia Zen.
O que quer que se queira dizer tem que ser dito em poucas e estritas palavras, dentro de uma métrica rígida e respeitando ainda outras regras.
Muitos dos cultores ocidentais do estilo adoptam o formato em três versos, com cinco-sete-cinco sílabas, 17 ao todo (a métrica japonesa não se mede em sílabas, dizem). Outros usam seis-sete-seis. Mas a forma costuma ser m-n-m.
O poema deverá na tradição japonesa ter uma menção meteorológica ou sazonal (kigo). No Ocidente muitas vezes omite-se isso — usa-se experiência pessoal e não as imagens estritamente contemplativas da forma tradicional.
Importante é o corte (kireji). O sentido da frase deverá ser cortado, no fim de um dos versos, e uma nova ideia expressa depois. Noutros casos, o corte aparece no fim, dando ao poema um aspecto conclusivo.
A rima não é relevante.
O haikai do começo foi composto enquanto eu regressava de uma noite muito bem passada. Tem uma vaga referência atmosférica (a Lua) e tem corte. Não sei se tem qualidade, não esperem isso de mim. Mas em tempos escrevi slogans publicitários e esse processo de podar as palavras até ao limite fascina-me.
Um exercício
muito espiritual.
Um toque de Zen.
Experimentem.
Tomem lá mais um:
Vou na corrente.
Nas mentes dos outros sou
O imprevisível.
E um haikai de José A. Martins, que tem o blog Mundo Haiku:
Um aperitivo
Tequilha, sumo de lima,
Bela margarita!
E este, de Millôr Fernandes (citado do blog Dias com Árvores):
Nada tem nexo.
Tudo é apenas
um reflexo.
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