René Salm e o outro Jesus
Vários investigadores se têm dedicado ao problema da existência histórica do Jesus da fé cristã e concluíram que se trata de um personagem mítico. Esta corrente tem sido minoritária mas muito persistente. Alguns dos proponentes desta ideia não são aceitáveis, por lhes faltar a preparação académica, o conhecimento das linguagens antigas ou por se inclinarem para o conspirativismo.
No entanto, no fim do século XX o principal autor a defender a versão científica desta ideia, com amplo conhecimento da história, das linguagens e das ideias do tempo foi Earl Doherty, no seus livros e website The Jesus Puzzle.
René Salm
Também Robert Price, um professor universitário de estudos bíblicos e autor, entre outros, dos livros The case Against The Case for Christ, Deconstructing Jesus, The Incredible Shrinking Son of Man e The Amazing Colossal Apostle – The Search for the Historical Paul.
Richard Carrier, historiador da antiguidade é autor de um livro académico revisto por pares On the Historicity of Jesus
David Fitzgerald tem o primeiro livro sobre o assunto traduzido em português, Nailed: Dez Mitos Cristãos que Mostram que Jesus Nunca Sequer Existiu, e eu fiz-lhe uma entrevista.
René Salm, criado em Beirute, pertence à corrente miticista, mas a sua narrativa tem duas originalidades: Durante anos, este autor dedicou-se a desmontar o mito de Nazaré. Tendo em conta que Nazaré não existia no suposto tempo de Jesus, ele desmascara a armadilha turística que é atualmente o suposto local do nascimento de Jesus. Insiste que o Nazareno não se refere a Nazaré, mas a uma seita preexistente, os Natsarenos.
No seguimento disto, ele faz uma investigação desta seita, identificando-lhe raízes protognósticas e de filosofia oriental. Identifica mesmo um possível fundador desta corrente religiosa, 80 anos antes da Era Comum, um fariseu de Jerusalém chamado Yeshu ha Nostri, que fugiu, devido a uma perseguição do rei asmoneu Alexandre Janeu, para Alexandria, onde contactou com enviados budistas vindos da Índia, leu livros da famosa biblioteca e entrou em divergência com a fé judaica. Morto o rei e finda a perseguição aos fariseus, voltou a Jerusalém, onde criou um culto considerado herético pelos sacerdotes do Templo e acabou assassinado. Mas este Yeshu nunca se arvorou em Deus ou em Filho do Homem, sendo considerado pelos seus adeptos apenas um profeta.
São debates que eu sigo com muita curiosidade.
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