Dicas sobre a entrevista online

Pode acontecer que tenhas que ser entrevistado online. Ou és alguém cuja opinião pode ser pedida na comunicação social, ou pode ser uma entrevista de emprego, ou pode ainda ser uma conferência dentro das tuas obrigações profissionais ou sociais. Vou alinhar aqui umas quantas dicas úteis, para que possas ter sucesso.

MATERIAL

É preciso garantir que o material não te vai fazer tropeçar. Durante uma entrevista, todos os precalços se tornam tragédias. O material a usar não tem que ser topo de gama, tem simplesmente que ser eficiente e não te criar obstáculos nem distrações.

Pode ser usado um telemóvel ou um tablet, mas o padrão atual é um portátil numa secretária ou um computador torre dos antigos. O telemóvel ou o tablet dificilmente vão oferecer uma imagem de qualidade, com enquadramento, iluminação e som.

Sinal

Em primeiro lugar, tens que garantir um bom sinal de Internet. Não vais querer que a imagem fique preguiçosa, imprecisa, ou, pior ainda, que a tua testa se torne intermitentemente em grossos pixels sinistros, ou que a tua resposta leve quinze dias a chegar ao teu interlocutor.

Câmara

Os portáteis já trazem câmara no topo do ecrã. Verifica se a imagem dessa câmara é aceitável. Se não é, podes comprar e instalar uma câmara suplementar, que não são caras.

As torres não costumam ter câmaras, por isso, se não tens, terás que comprar e instalar uma, normalmente agarrada ao topo do ecrã. Escolhe uma que tenha uma boa imagem, mas não precisa de ser um topo de gama.

Online mulher

Som

Os portáteis já vêm com microfone e altifalantes incorporados, mas a questão tem que ser vista com cuidado. Pode haver interferência entre o som dos altifalantes e o microfone, na forma de feedback, ou as medidas eletrónicas para evitar o feedback podem resultar num som eletrónico. O melhor é optar por uns auscultadores com microfone de lapela ou ligado aos auscultadores. Assim, os altifalantes são desligados e não interferem com o microfone, mas continuas a ouvir o teu interlocutor. Há quem use grandes headphones de audiófilo, mas aqueles pequenos, de meter nos ouvidos, são mais discretos e bonitos. Há também versões de headphones sem fios, mas cuidado com a complexidade da instalação. Eu recomendo com fios, pela sua simplicidade. Isto vale também para as torres. Tudo isto tem que ser experimentado e bem configurado, funcionar sem falhas quando estiveres online.

Porquê o microfone de lapela em vez do que está incorporado no tablet, ou de um micro de secretária? Porque capta melhor o som e te deixa os movimentos livres, sem teres que te preocupar em falar na direção do micro. Os profissionais preferem-nos e devem ter as suas razões. Lembra-te só de não bater com a mão no peito!

micro

Microfone de lapela

Software

A entrevista pode ser feita com muitas apps diferentes, desde o Skype ao Messenger, do Zoom ao WhatsApp, mas muitas vezes o utilizador tem que aderir a uma plataforma comum usada no seu meio. Convém praticar com essa plataforma, para estar à vontade e não encontrar obstáculos.

Nota: Se dispuseres de um sobrinho de 15 anos versado nestas coisas, não hesites em pedir-lhe ajuda. Ele fica feliz.

AMBIENTE E ASPECTO

Fundo

Atrás da tua cara vai aparecer parte da tua casa. Assume-se em geral que a pessoa está em casa, despretensiosamente. Usa-se muito um fundo de estante com livros, o que cai bem, porque te mostra como uma pessoa intelectual. Este fundo, no entanto, pode dar uma imagem muito confusa. Uma parede branca não distrai e também funciona muito bem.

Não hesites em mudar a secretária ou o computador de sítio, se isso melhora o fundo. Lembra-te que em TV, é tudo ilusão. Até a realidade tem que se vestir de ilusão para ser vista.

Se vais mostrar parte da divisão em que estás, ela terá que estar impecavelmente arrumada, como é evidente. Mas convém não mostrar elementos visuais fortes, porque distraem do elemento essencial que vais mostrar, a tua cara ou busto. Uma cadeira confortável não será vista, mas ajuda-te a estar à vontade.

Agora — muito importante — tens que garantir que o Tareco não aparece a passear em cima do teclado, que o Lulu não se põe a ladrar, que a Xana não te vai pedir atenção. Portinha fechada, telemóvel e quejandos desligados ou em modo de voo. Se necessário, com alguém do outro lado da porta a impedir interrupções.

Uma conversa mais informal com colegas de equipa, naturalmente, não tem que ser defendida da mesma forma que uma entrevista à RTP. O Tareco a passear no teclado ou a Xana a pedir colo seriam elementos divertidos no primeiro caso, no segundo não.

Online homem

Iluminação

A tua cara terá que estar bem iluminada. Uma cara obscura tem um ar sinistro que não vais querer. Um candeeiro à tua frente, ao lado do ecrã, resolve o problema. Se isso resultar em demasiada sombra de um dos lados do rosto, podes usar dois, um de cada lado. Não deixes que a iluminação projete sombras na tua cara, por exemplo sombra do ecrã. Luzes vindas de cima vincam a sombra da cavidade dos olhos, do nariz e do queixo. Vindas de baixo podem fazer-te parecer um personagem maléfico. Experimenta, avaliando sempre a imagem resultante no ecrã.

Toilette

Pode-se aparecer de T-shirt, sem dúvida, mas a regra deverá ser vestires-te da mesma forma que o farias se a entrevista fosse presencial. Se vais ser entrevistado pela SIC, vais usar o que usarias se fosses lá ao estúdio. Quem tem responsabilidades institucionais talvez queira usar casaco e gravata, ou talvez não. Vale o mesmo para as mulheres, com maiores subtilezas e complexidades onde não me meto, mas que elas conhecem bem.

O cabelo tem que estar bem penteado, as sobrancelhas aparadas, a barba feita ou aparada. Na TV profissional toda a gente é maquilhada, homens inclusive, mas os homens em casa talvez possam passar um creme Nivea na cara para a pele ficar melhor (mas deixem-no secar, porra!).

As damas já sabem como é. Penteado e pintura impecáveis (não exagerar na pintura). O pior inimigo são as outras mulheres, que são umas cabras minuciosas a criticar tudo. Lembro-me de um escândalo que houve, quando a secretária de Estado da Saúde (creio) apareceu com madeixas no meio do confinamento...

Tópicos

Durante a intervenção, convém ter uma lista de tópicos ao alcance dos olhos, para ajudar a memória e garantir que se menciona o que se deve mencionar (ou que se omite o que deve ser omitido). Ter um papel escrito em cima da secretária não é bom, porque consultá-lo abriga a baixar os olhos, desviando-os da câmara. Mas se estiver em frente, por exemplo pregado numa parede com letras grandes, por detás da câmara, pode ser consultado sem que quase se note, o mesmo que os políticos fazem com o teleponto. Pode-se até criar um teleponto no ecrã, a correr noutra janela ao lado da app de comunicação, mas eu creio que é melhor deixar isso para os profissionais.

Em sessões de trabalho de equipa e semelhantes, dá jeito teres caneta e papel para apontares qualquer coisa que surja e não teres que te levantar e deixar perceber que estás de fato, gravata e... calções!

PRÁTICA

Este assunto aparece no fim, mas é o fundamental. Só se consegue uma boa comunicação, tanto presencialmente como online, com muita prática. No caso do ecrã, ele é impiedoso. Todas as hesitações se tornam ridículas, todos os defeitos são ampliados, as borbulhas tornam-se crateras, os mais inocentes tiques tornam-se grotescos. Mas não é tudo mau. Quem se apresenta à vontade vence. Quem apresenta boa auto-estima e não tem vergonha de ser quem é tem sempre vantagem. A melhor forma de ganhar segurança é praticar.

Quinquilharia

Portanto, é preciso praticar. Em primeiro lugar, garantir que toda a quinquilharia e software funcionam sem problemas. Saber ligar e desligar tudo sem sobressaltos. Ser capaz de pôr os auscultadores e o microfone de lapela sem ficar enleado naquilo tudo. Sentar na secretária, fazer o checklist para ver se todos os sistemas funcionam.

Postura e presença

Estar à vontade e mostrar-se seguro de si, como disse, é fundamental. Convém que apareças na imagem a olhar de frente, mas para isso é preciso, não olhar para a imagem, mas olhar para a câmara. É preciso praticar! Olhar de frente (olhos nos olhos) quem está do outro lado dá um ar de credibilidade — mesmo que estejas a mentir. Para praticar, nada melhor que fazer chamadas de treino com amigos ou familiares e ouvir as suas críticas.

Atenção ao enquadramento da imagem no ecrã. Não cortar a testa, não se debruçar sobre a câmara como se o interlocutor estivesse num buraco, não ficar demasiado recuado, a mostrar só o cocuruto da cabeça. Já agora, se achas que tens um perfil bom e um perfil mau, podes afinar isso.

Cada pessoa usa gestos automáticos e tiques quando está em sociedade. Não há mal nenhum nisso — até contribuem para a tua autenticidade — mas o exagero é sinal de nervosismo e deves controlar-te.

Sorrir, é claro. Nada de exageros, que parece falso.

Voz e dicção

Quase todos os que não fazemos vida de falar em público temos dicção e colocação de voz muito deficientes. Só mesmo muita prática pode melhorar esses pontos. Devemos falar bastante com gravação vídeo, analisar o discurso e corrigir, mostrar a amigos e aceitar as suas críticas. Verificar se falamos demasiado baixo ou se gritamos. Ajuda prestar atenção à forma como falam os locutores profissionais, sublinhando certas sílabas e certas palavras para obter mais clareza do discurso.

É bom podar os tiques verbais, que usamos até sem ter consciência. Os "aaa", "ah", "hum", "digamos", "portanto", "pronto". O sotaque regional não é defeito, é feitio. Não precisa de ser corrigido.

Quem tem condições da fala ou outras, como a gaguez, ou até Tourette, não precisa levar muito a peito o que digo aqui. A identidade da pessoa deve ser assumida, não reprimida. No caso da pessoa com gaguez, por exemplo, seria injusto sobrecarregá-la com a sua condição, que na verdade não pode controlar, para além das outras dificuldades partilhadas por todos. Os interlocutores só têm mesmo é que respeitar.

CONCLUSÃO

É tudo uma questão de boa preparação, de prática, e de criticar construtivamente para melhorar. Cada vez mais, com pandemia ou sem ela, saber comunicar online é importante.

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