A fada boa
A pessoa que eu conheço mais parecida com uma fada boa é a minha amiga Henriqueta. Lembram-se da fada boa dos filmes de Walt Disney, baixinha, com um nariz redondinho, cabeleira farta e olhos bondosos, sempre pronta a arranjar uma magia para dar força ao lado bom? A Henriqueta não tem varinha mágica (pelo menos que eu tenha visto…) mas tem grandes poderes.
Os poderes dela não são mágicos, mas parecem. Dizem que qualquer técnica suficientemente avançada parece magia, e no caso dela isso é verdade.
O poder da Henriqueta é uma empatia extraordinária que se liga ao nosso lado bom, mais vivo e mais solar, e nos puxa para cima. Põe-se com pequenas frases, que ditas por outra pessoa seriam banalidades, mas que afirma com profunda convicção, sobre, sei lá, dar valor à vida, ter confiança nos outros, gostar de nós próprios, e não tarda nada deixamos de dar importância aos nossos abismos sombrios, estamos a sorrir e sentimos o coração mais leve para aí uns duzentos quilos.
Encontramo-nos muitas vezes no café ao fim da tarde. Eu chego do trabalho e a Henriqueta está de saída para ir passar a noite em casa de algum bebé prematuro. É a sua profissão. Fazer com que estes seres de quilo e meio decidam viver. Até agora conseguiu sempre.
Suponho que é aí que os seus talentos são plenamente desenvolvidos, no contacto com essas crianças. Eu tenho um vislumbre do que ela faz, porque tenho um pouquinho de jeito de comunicar com bebés – do tipo eu tenho cinco e ela tem cem. Mas há muitas crianças vivinhas e a saltar, saudáveis e felizes porque a Henriqueta lhes deu, literalmente, vontade de viver.
Não estamos a falar só de boas vontades, mas também de técnica rigorosa. Muitas dessas crianças têm quadros clínicos complicados e muitas noites não são isentas de emergências. No fim, a Henriqueta aproveita para pôr a casa em ordem: ensina rotinas e organização aos pais, que os ajudam a ser eficazes e felizes na sua família. Anos passados, com as crianças já maiores, continuam a chamá-la quando há crises que não sabem resolver.
Vivendo num mundo de boas intenções e empatia, os seus pés raramente tocam o chão. Está sempre pronta a dar massagens e conselhos de beleza e vida a amigas e vizinhas, que raramente se lembram de lhe pagar. Sonha sempre novos projectos, sem saber avaliar a sua viabilidade. Vale-lhe o marido, um velho marinheiro bonacheirão (e meu grande amigo) que desempenha o papel do Porquinho Prático. Volta e meia tem de puxar-lhe por um tornozelo para trazê-la e volta à terra. Ela não gosta nada disso, mas sabe que tem de ser assim.
Sem nunca ter mexido num computador, depois dos sessenta anos resolveu entrar na Internet. Eu, as suas filhas e os netos, todos ajudámos. Arranjei-lhe um blogue que está a dar os primeiros passos: Henriqueta de Góis.
A Henriqueta de Góis anda também pelo Facebook. Tens aí a tua oportunidade de te tornares amigo/a de uma fada boa…
Comecei por ter ciúmes..mas acabei por me apaixonar pela Henriqueta... Como vou sair desta??
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