A República Popular da Ucrânia (1918)
Este artigo do New York Times, de fevereiro de 1918, noticia a criação da República Popular da Ucrânia. É de notar que a I Guerra Mundial ainda estava em curso e só terminaria em novembro desse ano, daí o nome adverso de “teutões” com referência ao Império Alemão.
A Ucrânia tinha declarado a sua independência do Império Russo com a Revolução Russa de 1917 e a Rússia, agora sob domínio comunista, tinha acabado de fazer uma paz separada com os Poderes Centrais (Império Alemão e Império Austro-húngaro), no Tratado de Brest-Litovsk. Antes da sua independência, a Finlândia era um ducado do Império Russo.
A Polónia não era independente, tendo sido dividida em três partes atribuídas à Rússia, à Prússia e ao Império Austro-húngaro no século XIX. Com o fim da I Guerra Mundial, a Polónia tornou-se independente, tal como a Estónia, Letónia e a Lituânia e alguns outros países da zona. A Ucrânia acabou por ser conquistada pelos comunistas e tornou-se uma república parte da União Soviética. A fronteira entre a Ucrânia e a Polónia teve grandes variações até ao fim da II Guerra Mundial. A Crimeia passou a pertencer à Ucrânia no tempo de Krustchev, em grande parte por estar totalmente devastada pelos genocídios de Estaline.
“Do caos em que a Rússia caiu depois da revolução de março passado, emergiu uma nova nação – a República Popular da Ucrânia.
Nos termos do tratado de paz com os Poderes Centrais, a Ucrânia não ganha território austro-húngaro algum, mas os teutões entregam-lhe uma faixa (a área tracejada no mapa) do que era antes a Polónia Russa. Esta faixa, junto com o resto da área sombreada no mapa, mostra a nova República da Ucrânia, na base das reivindicações extremas dos ucranianos quando se separaram da Rússia.
A Crimeia, de acordo com as notícias mais recentes, não está incluída no novo Estado Ucraniano, nem a Bessarábia1, de onde vieram notícias da ocupação da principal cidade bessarábica, Kishinev, por tropas romenas, que se seguiram a outros despachos falando na criação de uma República da Bessarábia.
Ao norte da Ucrânia são mostradas as três subdivisões da Polónia – austríaca, russa e alemã. A Polónia Russa está inteiramente ocupada pelos invasores teutões, como se vê com referência à linha negra grossa que denota o ponto extremo alcançado no avanço para leste dos exércitos teutónicos. Os Poderes Centrais também têm a Lituânia, Curland2 e parte da Estónia, incluindo o grande porto báltico de Riga, a totalidade dos quais o porta-voz do governo bolchevique, Trotsky, declarou que têm que ser evacuados pelos invasores. Mas a paz súbita feita pelos bolcheviques com os teutões no domingo passado, aparentemente, deixa os teutões na posse completa desses distritos, por agora3.
A norte deste território fica a Finlândia, a qual, como a Ucrânia, declarou a sua independência da Rússia e também está num conflito sangrento com os bolcheviques, que reclamam o seu direito ao controlo, apesar da declaração4. Notícias contraditórias têm vindo recentemente da Finlândia, mostrando as mais recentes que as tropas finlandesas suplantaram os bolcheviques.
Embora a Finlândia possa assumir grande importância no futuro próximo, o primeiro lugar entre os territórios russos na ribalta pertence agora à Ucrânia. A nova república, se conseguir controlar todos os territórios reclamados pelos campeões da raça ucraniana, irá cobrir 850 mil quilómetros quadrados, uma área uma vez e meia maior que o Império Germânico, com uma população de 28 milhões.”
1 ↑ Corresponde parcialmente à atual Moldova.
2 ↑ Courland ocupa parte da Estónia e da Letónia atuais.
3 ↑ Os Países Bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia, pertenciam ao Império Russo, daí a vontade de Trotsky de que voltassem à Rússia. Mas os bolcheviques tiveram que fazer a paz em condições desfavoráveis e acabaram por prescindir desses territórios que, no fim da I Guerra Mundial, se tornaram independentes. Mais tarde, no fim da Segunda Guerra Mundial, a URSS voltou a apoderar-se deles e só voltaram à independência no fim da II Guerra Mundial.
4 ↑ Alusão à Guerra Civil Finlandesa (1918).
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