Cachupa na Tia Bé
Tarde de domingo, telefona-me o Natalino. “Ó pá, estou-me a levantar agora e queria saber se queres ir jantar. Conversar, e tal…” Ele faz o turno da noite num táxi em Lisboa, portanto o horário confere. E o domingo é o seu único dia (noite) livre. “Ok, aparece no Charnequeiro lá para as sete e meia, a ver se descobrimos para aí uma manjedoura qualquer.”
Não estava mais ninguém disponível para alinhar no jantar. O Charnequeiro estava-se a encher de benfiquistas para verem o Benfica-Paços de Ferreira, uns por não terem Sport TV, outros pelo ambiente. Só depois de pensar noutras possibilidades é que me lembrei da Tia Bé. O Natalino não conhecia, mas quando lhe falei na cachupa, arrebitou logo os orelhas.
A Tia Bé trouxe para Almada os sabores da sua terra, Cabo Verde. Tem dois restaurantes, um na avenida junto à Lisnave, perto do Hospital Particular de Almada, assinalado por um mural em graffiti, outro nas instalações do Liberdade Futebol Clube, numa rua decrépita que sai da rotunda desse mesmo hospital. Foi a esse que fomos.
E pronto, comemos uma magnífica cachupa e fomos muito bem atendidos por uma das filhas da Tia Bé (essa estava na cozinha).
A cachupa sabe bem, mas só se torna uma delícia depois de temperada com uma dose generosa de piri-piri. O molho picante era poderoso.
O restaurante estava meio às moscas, numa noite de domingo. Sexta e sábado devia estar cheio, pois os jovens de Almada habituaram-se a vir aqui. Num projector mural e em várias televisões, o Benfica dava uma cabazada no Paços de Ferreira. Só dois adeptos saudavam os golos (não nós, o Natalino é do Sporting, creio, e eu sou agnóstico em futebol).
O Natalino foi gráfico em tempos, depois esteve a trabalhar em Londres como motorista e nas entregas. De volta a Portugal, sem nada que fazer, decidiu apostar no táxi. Gosta de trabalhar à noite, como fazia quando era gráfico. Saber falar inglês de Londres ajuda.
Ele queria saber como entrar no Facebook e como é que isso podia beneficiar o seu trabalho. Um táxi à noite? Pois claro! Já me tinha explicado que a sua estratégia é aproximar-se da gente fina que frequenta os bons clubes, criando uma clientela fixa e evitando o mais possível certas zonas que diminuem a esperança de vida dos taxistas. Não sei explicar porquê, nas acho que ele tem a pinta certa para ter sucesso.
Fiz-lhe um cartão todo vistoso, que ajuda a cativar clientela. Disse-me que está a resultar. Agora quer experimentar o Facebook. Faz muito bem!
“Sabes que mais? Essa gente fina está toda no Facebook. Só tens que lá estar também!” Depois discutimos o como fazer, mesmo sem computador, só com o telemóvel.
É mais um dos pupilos dos meus cursos rápidos de alfabetização Web.
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