Quando a profecia falha

Leo Festinger (1919-1989) foi um professor universitário de Psicologia e Sociologia dos EUA que criou o conceito fundamental de dissonância cognitiva, que é:

“A perceção de informação contraditória e a sua contabilização mental. Os elementos de informação relevantes incluem as ações, os sentimentos, as ideias, as crenças e os valores de uma pessoa, bem como os elementos do ambiente. A dissonância cognitiva é tipicamente sentida como stress psicológico quando as pessoas participam numa ação que vai contra uma ou mais dessas coisas. De acordo com esta teoria, quando duas ações ou ideias não são psicologicamente coerentes entre si, as pessoas fazem tudo o que está ao seu alcance para as alterar até que se tornem coerentes. O desconforto é desencadeado pelo choque entre a crença da pessoa e a nova informação percebida, pelo que o indivíduo tenta encontrar uma forma de resolver a contradição para reduzir o seu desconforto.” (Wikipédia).

Os seus ajudantes infiltraram uma seita apocalíptica que esperava o fim do mundo numa certa data, para estudarem o comportamento dos seus crentes quando a profecia falhasse. Descobriu que, na grande maioria, não abandonavam a seita desiludidos. Em vez disso, procuravam refazer os cálculos ou reinterpretar os textos, indicando nova data no futuro. Alguns até declaram que a profecia se cumpriu mesmo, mas de forma oculta ou numa dimensão espiritual.

Leo Festinger publicou o resultado do seu estudo num livro fundamental intitulado “When Prophecy Fails” (Quando a Profecia Falha).

Leo Festinger

As religiões que preveem o fim do mundo ou a salvação próximos nunca desistem quando a previsão não se cumpre. Os milleritas, seguidores numerosos do apóstolo William Miller, no século XIX nos EUA, esperavam a segunda vinda de Cristo em 1844. Quando não aconteceu, voltaram a prever outras datas. O insucesso das previsões nunca leva ao fim da seita.

Do Grande Desapontamento que se seguiu ao falhanço da profecia de 1844 surgiram múltiplas seitas, as mais fortes sendo os Adventistas do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová.

Mas o caso mais famoso é o próprio cristianismo. Paulo e os evangelistas esperavam a vinda de Cristo para breve. “Não passará esta geração até que todos esses eventos se realizem”(Mateus 24:34). “Alguns dos que aqui se encontram não experimentarão a morte até que vejam o Filho do homem vindo em seu Reino” (Mateus 16:28).

Quando a profeciab falhou, a seita transformou-se nas Igrejas Católica e Ortodoxa.

O conceito não se aplica apenas à religião. É válido em todos os campos sociais em que existe contradição entre as convicções e expetativas e a realidade, nomeadamente em política.

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